Burnout no trabalho: Sinais, Consequências e Caminhos para a Recuperação

O trabalho é uma parte central das nossas vidas adultas. Dedicamos muitas horas à nossa profissão, investindo a nossa energia, talento e dedicação. Contudo, este investimento constante, quando desequilibrado, pode levar a um profundo esgotamento. Falamos da síndrome de Burnout, também conhecida como esgotamento profissional. É um tipo específico de estresse ocupacional, com um impacto real na nossa saúde psicológica e bem-estar geral

É provável que esteja a ler isto porque sente um cansaço que não passa, uma sobrecarga constante e a percepção de que a energia, a motivação e até a sua paciência estão a esgotar-se. Talvez o que antes fazia sentido no seu trabalho ou nos seus estudos agora pareça pesado e sem propósito. Estes sentimentos podem ser sinais de Burnout, uma forma específica de stress relacionada com o trabalho.

Burnout

O Burnout no trabalho não surge de um dia para o outro; é um processo de desenvolvimento de sintomas que resulta da pressão emocional constante e repetitiva, muitas vezes associada a um intenso envolvimento com outras pessoas por longos períodos. Profissões que implicam contacto próximo e envolvimento emocional – como Profissionais de Saúde, Professores, Educadores, e até mesmo trabalhadores bancários – são especialmente vulneráveis a este problema.

Queremos que saiba que este estado de esgotamento não é uma falha sua, mas sim uma resposta humana a circunstâncias e exigências por vezes avassaladoras. O objetivo deste texto é ajudá-lo/a a identificar o Burnout e a descobrir os caminhos possíveis para encontrar o seu bem-estar e recuperação.

Quais os sinais do Burnout que devemos estar alerta?

Estar atento/a aos sinais que o seu corpo e a sua mente lhe dão é fundamental. O Burnout manifesta-se de diversas formas, mas existem componentes principais e sintomas comuns a que deve estar alerta:

Exaustão Emocional: É o sentimento de estar sobrecarregado/a e esgotado/a dos seus próprios recursos emocionais e físicos. Pode sentir uma fadiga intensa, cansar-se facilmente, ter dificuldade em dormir bem, sentir-se constantemente cansado/a e até chorar mais do que o habitual. A exaustão é geralmente o primeiro componente a surgir.

Despersonalização: Consiste numa insensibilidade emocional que leva a tratar os outros, como colegas, clientes ou familiares, quase como objetos. É um distanciamento psicológico.

Reduzida Eficácia Profissional ou Realização Pessoal: É uma tendência para se autoavaliar negativamente, afetando a capacidade de realizar o trabalho e lidar com outras pessoas. Pode sentir que perdeu o interesse pelas coisas, ter dificuldade em pensar com clareza ou tomar decisões, encontrar dificuldades em realizar as suas atividades com satisfação, sentir-se inútil ou incapaz, e notar uma diminuição da satisfação pessoal.

Sintomas Físicos: O Burnout pode manifestar-se através de queixas físicas, como dores de cabeça frequentes, problemas digestivos, tremores de mão ou falta de apetite.

Alterações de Humor: Sentir-se persistentemente nervoso/a, tenso/a ou preocupado/a, sentir-se triste ultimamente ou assustar-se com facilidade.

Alterações nas Relações: Pode ocorrer uma deterioração das relações sociais e familiares, ou conflitos com colegas e superiores.

Preocupações Sérias: Em casos mais graves, podem surgir ideias de acabar com a vida.

Percepção no Ambiente: Notar que outros colegas parecem estar a adoecer pelo trabalho ou sentir que o seu próprio trabalho lhe causa sofrimento são também sinais de alerta.

Que ajuda têm a pessoa com um quadro deste tipo?

Se reconhece estes sinais, saiba que não tem de passar por isto sozinho/a e que existe ajuda eficaz. Procurar apoio é um passo fundamental e corajoso para a recuperação. A ajuda pode vir de diferentes fontes:

Profissionais de Saúde Mental: Um psicólogo é um profissional crucial nesta jornada. A terapia, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), tem demonstrado ser eficaz na redução do Burnout e dos seus sintomas. Portanto, este profissional pode ajudá-lo/a a desenvolver estratégias para gerir a ansiedade e o stress, regular as emoções, encontrar equilíbrio entre vida pessoal e profissional e desenvolver competências para lidar com os desafios. Em muitos casos, o acompanhamento por um psiquiatra também pode ser necessário, especialmente se houver indicação para medicação (embora o alto consumo de ansiolíticos em Portugal sugira a necessidade de outras abordagens para além da farmacológica).

Apoio Social: Manter ou fortalecer as suas redes de apoio social – família, amigos, comunidade – é vital. Falar com pessoas de confiança sobre como se sente é importante. A perceção de que tem apoio disponível é um fator protetor valioso.

Serviços Comunitários e Apoio Social: Instituições do setor social, como as IPSS, podem ser uma “tábua de salvação” para pessoas com problemas de saúde mental e seus cuidadores. No entanto, o acesso a cuidados de saúde mental no serviço público pode enfrentar barreiras como tempos de espera e desigualdades.

Médicos de Cuidados de Saúde Primários: O seu médico de família pode ser um primeiro ponto de contacto e, em alguns casos, encaminhá-lo/a para especialistas.

Lidar com o Burnout é um processo ativo que, muitas vezes, requer ajuda externa. O estigma associado aos problemas de saúde mental pode dificultar a procura de ajuda, mas procurar informação e apoio é o primeiro e mais importante passo.

Como prevenir o desenvolvimento de Burnout no trabalho?

Prevenir o Burnout significa cuidar de si e do seu ambiente de forma contínua. Algumas estratégias preventivas importantes incluem:

Gerir o Stress: Aprender a identificar e gerir os seus níveis de stress é crucial, utilizando técnicas de regulação emocional e autocuidado.

Procurar Ajuda Cedo: Não espere que os sintomas se agravem. Identificar os primeiros sinais de mal-estar e procurar apoio profissional pode prevenir o desenvolvimento de um quadro de Burnout.

Fortalecer as Redes de Apoio Social: Cultive e mantenha relações significativas com a família e amigos. O apoio social funciona como um fator de proteção contra o stress.

Cuidar do Ambiente de Trabalho/Estudo: Procure, sempre que possível, ambientes que promovam o bem-estar, com pausas adequadas, boas relações interpessoais, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, autonomia e controlo sobre as tarefas. Reestruturar processos de trabalho e promover o apoio social no ambiente profissional são também recomendações.

Desenvolver Competências Pessoais: Trabalhar a sua autoestima, capacidade de resolução de problemas, assertividade e gestão das emoções pode aumentar a sua resiliência. A literacia em saúde mental – o conhecimento sobre o tema – também capacita para a prevenção e identificação precoce.

Equilibrar a Vida: Encontrar um equilíbrio saudável entre responsabilidades, descanso, lazer e relações pessoais é crucial para o bem-estar16. Incluir atividade física regular também ajuda.

Como devemos lidar com o Burnout no trabalho?

Lidar ativamente com o Burnout é um processo que, embora desafiante, é totalmente possível e leva à recuperação. Se está a enfrentar esta situação, considere as seguintes abordagens:

Procure Ajuda Profissional Imediatamente: Um psicólogo é o profissional mais indicado para o/a acompanhar na recuperação do Burnout. Através de terapia, pode aprender a compreender o seu esgotamento, desenvolver mecanismos de proteção eficazes e trabalhar em direção ao bem-estar.

Utilize o seu Apoio Social: Não se isole. Fale com pessoas de confiança sobre como se sente. As suas redes de apoio são um recurso valioso. A perceção de apoio disponível é particularmente protetora.

Pratique Autocuidado Ativo: Integre pequenos momentos de autocuidado na sua rotina diária, como momentos de respiração consciente ou o simples ato de nomear o que sente. Cuide também da sua saúde física, pois a saúde mental e física está interligada. A prática de exercício físico pode ser um fator importante na redução do Burnout.

Desenvolva e Aplique Estratégias : Aprenda técnicas de regulação emocional para gerir sentimentos intensos como a ansiedade ou a tristeza. Trabalhe na sua capacidade de resolver problemas e de lidar com conflitos.

Analise a Situação Profissional: Se o Burnout está claramente ligado ao trabalho, identifique os fatores específicos que contribuem para o esgotamento. Considere formas de melhorar as suas condições, desenvolver competências específicas (como comunicação ou resolução de conflitos), ou ajustar as suas expectativas. Em alguns casos, pode ser necessária uma reestruturação dos processos de trabalho.

Considere Abordagens Integradas: Estudos mostram que a combinação de psicoterapia com apoio social (como grupos de apoio) e exercício físico pode ser muito eficaz.

O caminho para lidar com o Burnout e recuperar o seu bem-estar é individual e pode levar tempo, mas é possível. Não tenha receio ou vergonha de pedir ajuda; é um sinal de força e autocuidado.

Se sente que precisa de apoio para compreender e lidar com o Burnout, ou com outros sintomas de sofrimento psicológico, estou aqui para o/a ajudar. Ofereço atendimentos on-line para maior conveniência, e sessões presenciais em Lisboa e Cascais.

Contacte-me para saber como podemos trabalhar juntos/as para encontrar o seu caminho para a recuperação e o bem-estar.

3 comments

  1. Pingback: Ansiedade : Efeitos da tecnologia - Marco Oliveira

  2. Pingback: Apoio Psicológico e Carreira: Um Investimento com Retorno

  3. Pingback: Saúde Mental no Trabalho: Um Compromisso Urgente

Leave Comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *