Saúde Mental no Trabalho: Um Compromisso Urgente

Saúde Mental: Desafios, Vulnerabilidades e Estratégias em Portugal

Com a crescente atenção dada ao bem-estar dos colaboradores, o tema da saúde mental no trabalho assume, naturalmente, uma relevância sem precedentes para as empresas em Portugal. Uma organização que cuida da saúde mental da sua equipa não só cumpre uma responsabilidade social e ética, como também colhe benefícios tangíveis na produtividade e na qualidade de vida no trabalho. É fundamental reconhecer que a saúde mental não se traduz apenas na ausência de transtornos; pelo contrário, abrange o bem-estar subjetivo, a autoeficácia percebida, a autonomia e a autorrealização do potencial individual.

Segundo relatório da OMS em 2011, cerca de 450 milhões de pessoas em todo o mundo sofriam de transtornos mentais ou de comportamento, o que representa quatro das dez principais causas de incapacidade globalmente.  De acordo com o CNS – Conselho Nacional de Saúde em 2019, em Portugal, as perturbações psicológicas afetam aproximadamente 22,9% da população, posicionando o país num preocupante segundo lugar entre os países europeus. Perante estes números, é imperativo que as empresas, especialmente as áreas de recursos humanos, desenvolvam estratégias para mitigar os riscos e promover um ambiente laboral psicologicamente saudável.

Quais os sinais a que devemos estar alerta?

O stress ocupacional e a síndrome de Burnout são problemas que se manifestam de várias formas, afetando a motivação e o envolvimento pessoal com o trabalho. A exaustão emocional, a despersonalização e a redução da eficácia profissional são as três dimensões centrais do burnout, sendo a exaustão emocional o primeiro componente a surgir.

Existem, ademais, outros indicadores a que a sua organização deve estar atenta:

Sintomas somáticos: Muitos colaboradores podem relatar problemas de sono (como “dormir mal”), dores de cabeça frequentes ou problemas no sistema digestivo. Tais queixas podem, na verdade, ser manifestações físicas de um mal-estar psicológico ou de depressão “mascarada”.

Alterações de humor: É comum observarem-se nervosismo, tensão, preocupação excessiva, tristeza ou irritabilidade. Um colaborador pode sentir-se facilmente assustado ou chorar mais do que o habitual.

Decréscimo de energia vital: A equipa pode demonstrar cansaço com facilidade, dificuldade em tomar decisões ou em realizar atividades diárias com satisfação. Pode, igualmente, ser notória uma dificuldade em pensar com clareza ou uma sensação de que o trabalho causa sofrimento.

Pensamentos depressivos: A perda de interesse pelas coisas, a sensação de inutilidade ou a crença de ser incapaz de desempenhar um papel útil são sinais de alarme16. Embora uma minoria, é preocupante que uma percentagem de trabalhadores possa até ter ideação suicida.

Queda da eficácia e Aumento do absenteísmo: O Burnout está diretamente associado à diminuição da eficácia no trabalho e a maiores taxas de absentismo. Em Portugal, o stress e o Burnout custam às empresas cerca de 3,2 mil milhões de euros por ano.

Deterioração das relações: O Burnout pode levar a uma insensibilidade emocional (despersonalização), resultando em relações mais distantes com colegas e clientes, tratando-os como objetos.

Que ajuda têm a pessoa com um quadro deste tipo?

Quando os sinais de sofrimento psíquico se tornam evidentes, é crucial que as empresas saibam como apoiar os seus colaboradores. É importante ressaltar que apenas uma pequena minoria de trabalhadores tem acesso ao tratamento mais básico.

Neste contexto, o apoio pode ser multifacetado:

Apoio psicológico: Um psicólogo pode desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de estratégias de regulação emocional e autocuidado, auxiliando na gestão da ansiedade e do stress, e no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Este profissional também pode atuar na avaliação do stress e Burnout e na criação de ambientes de trabalho psicologicamente saudáveis.

Acompanhamento médico: Em casos mais graves, a intervenção de um psiquiatra e, se necessário, medicação, pode ser essencial para o tratamento. No entanto, é fundamental que a medicalização não seja a única resposta; muitas vezes, ela pode ser uma estratégia defensiva para manter a produtividade.

Programas de apoio internos: A sua empresa pode oferecer gabinetes de aconselhamento, flexibilidade de horários, e atividades lúdicas de redução do stress. É vital que a acessibilidade a estes recursos seja facilitada, especialmente quando se trata de apoio psicológico, uma vez que muitas pessoas podem desconhecer que podem solicitá-lo através do seu médico de família.

Fortalecimento do Apoio Social no Trabalho: A perceção de apoio social é um fator protetor significativo face ao stress e está correlacionada com melhores níveis de saúde mental. As empresas podem promover redes de apoio social no ambiente de trabalho, o que pode amortecer o efeito negativo do desequilíbrio entre a exigência e o controlo sobre a saúde31.

Como prevenir este comportamento?

A prevenção do Burnout e do stress ocupacional deve ser uma prioridade estratégica para as áreas de recursos humanos, pois é mais eficaz e menos dispendiosa do que a intervenção após o problema instalado. Assim, uma abordagem proativa pode incluir prevenção e promoção da saúde mental como valor organizacional. Assim, criar um ambiente de trabalho saudável, onde o diálogo é aberto, os objetivos são claros e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é respeitado, faz toda a diferença.

Implementar workshops de bem-estar psicológico é uma medida eficaz. Abaixo, sugerimos formações que podem ser adaptadas às necessidades da sua empresa:

  • Gestão do Stress e Autocuidado no Trabalho
  • Reconhecer e Prevenir o Burnout na Equipa
  • Inteligência Emocional em Contexto Empresarial
  • Ansiedade e Depressão: Sinais, Prevenção e Apoio
  • Ambiente de Trabalho Positivo: Como Promover?

Todos os workshops são desenhados para contextos empresariais, com recursos práticos, momentos de reflexão e aplicação de ferramentas do universo da psicologia da saúde e da psicologia organizacional.

Como devemos lidar com este comportamento?

Quando um colaborador apresenta sinais de sofrimento psicológico, a resposta da empresa deve ser empática e direcionada (acolher sem julgar). Porém não basta apenas curar o indivíduo; é preciso intervir na organização do trabalho. A atuação das equipas de recursos humanos é fundamental neste processo.

Abordagem sem estigma: A saúde mental ainda é, infelizmente, um tabu na sociedade e no local de trabalho. É fundamental criar um ambiente de trabalho onde se possa falar abertamente sobre o tema, sem julgamentos.

Intervenção precoce: A identificação dos sinais e a oferta de apoio imediato podem prevenir o agravamento do quadro. É importante que os gestores e as áreas de recursos humanos estejam capacitados para identificar esses sinais.

Planos de intervenção individualizados: Cada caso é único e requer um plano de apoio adaptado às necessidades do colaborador, que pode incluir acompanhamento psicológico, médico e adaptações no ambiente de trabalho.

Reconhecimento do sofrimento relacionado ao trabalho: É vital que a organização valide a experiência do colaborador, reconhecendo que o trabalho pode ser uma fonte de sofrimento psíquico. Muitos trabalhadores em sofrimento que o associam ao trabalho já enfrentavam problemas semelhantes antes.

Em suma, investir na saúde mental dos colaboradores é um compromisso com o bem-estar individual e coletivo. Permite também reforçar a produtividade e assegurar a sustentabilidade das organizações a longo prazo.

Leia também: Como o apoio psicológico pode melhorar a vida profissional?

Para mais informações sobre os workshops ou para agendar uma reunião de diagnóstico entre em contacto.

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